I Jornadas “Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo” | 20-21 de Outubro de 2018

I Jornadas “Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo”
20-21 de Outubro de 2018
Rosa Imunda | Porto

Com os punhais
furtados ao anjo
construo o meu lugar
com a gaze das lagoas
e a pérola dos ciprestes
com a viuvez da pedra
Do primeiro salto da lebre
ao voo selvagem da minha arma
O braço não tem lar
(E. Jabès)

Nas cidades, persiste habitação degradada e insalubre e até mesmo dessa as pessoas são expulsas para dar lugar a cada vez mais numerosos alojamentos “locais” (venha viver como um operário do século XIX!, dirá o cartaz de promoção turística). Ninguém que viva do seu trabalho consegue arrendar uma casa digna que não seja na periferia e as pessoas continuam a ser empurradas para bairros “sociais” guetizados, como entulho da limpeza social em curso.

Quem resiste sofre todo o tipo de ataques por parte de proprietários e imobiliárias, desde o desaparecimento de campainhas, caixas de correio, cortes de água e luz e até visitas inoportunas e não autorizadas, e todo o tipo de pressões imagináveis e inimagináveis exercidas pelos especuladores com o fim de esvaziar a cidade das suas gentes e torná-la num parque temático.

Numa altura assim, precisamos de nos juntar para falar!

Não poderíamos deixar de pensar juntas e organizar-nos para delinear futuras acções de luta e de resistência por uma habitação em que os espaços de vida e de residência sejam definidos pelas pessoas, de acordo com as suas necessidades. Esta resistência não pode depender do Estado, do Poder local, das instituições ou dos partidos e de plataformas “amigos do povo”. Também não pode estar dependente daqueles que travam as lutas populares com propostas legalistas que vedam a participação real das pessoas afectadas pela questão da habitação, como se o Estado – que até agora pactuou e ajudou a criar a situação em que nos encontramos através de dispositivos de limpeza social, de protecção da propriedade e de negócios pouco claros – viesse agora oferecer soluções por mera bondade.

A nossa proposta é de auto-organização sem mestres, nem chefes, a constituição de comissões de moradoras sem hierarquias, nem burocracias, que encorajem a acção directa e não a recriminem como infantil, perturbadora, contra-producente, e todos os epítetos que lhe são comum e desonestamente associados.

Eis as Jornadas Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo.

As casas, ruas, vielas, avenidas, becos, travessas e praças revestidas de calçada, cimento ou alcatrão, que nenhum presidente construiu (cortar fitas não conta), são nossas, todas!
Tomemo-las!

Programa completo:

Dia 20 | Sábado

17h | Rede de Solidariedade de Lisboa: uma experiência de apoio mútuo

A Rede de Solidariedade surgiu em 2016, da vontade de criar um movimento de apoio mútuo e de base comunitária à volta das questões da habitação. Inspirada no modo de funcionamento e organização da PAH (Plataforma de Afectados por la Hipoteca) e da Rede de Solidariedade de Seattle (Seattle Solidarity Network), a RSL actua de forma solidária, gratuita, independente e igualitária.

19h | Cíntia & Rui (poesia e bateria)
20h | Jantar

Dia 21 | Domingo

15h30 | Stop Despejos – A acção directa no direito à habitação (Lisboa)

A Stop Despejos é uma plataforma formada em Lisboa, em 2017, para parar os despejos e defender o direito à habitação e das pessoas a permanecerem nos seus bairros, dirigida sobretudo para a acção directa.

18h | Bairro 6 de Maio – resistir até hoje (Amadora)

O Bairro 6 de Maio é um bairro auto-construído na Damaia (Amadora). Desde 2015 que os seus moradores têm enfrentado despejos sem alternativa, aos quais têm vindo a resistir até hoje.

20h | Jantar musicado