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II Jornadas “Cidade em Revolta – Entradas e Saídas da Ruína Capitalista” | 8-9 de Dezembro de 2018

II Jornadas “Cidade em Revolta – Entradas e Saídas da Ruína Capitalista”
8-9 de Dezembro de 2018
Associação Cochiló | Porto

Nas cidades, persiste habitação degradada e insalubre e até mesmo dessa as pessoas são expulsas para dar lugar a cada vez mais numerosos alojamentos “locais” (venha viver como um operário do século XIX!, dirá o cartaz de promoção turística). Ninguém que viva do seu trabalho consegue arrendar uma casa digna que não seja na periferia e as pessoas continuam a ser empurradas para bairros “sociais”, como entulho da limpeza social em curso.

Quem resiste sofre todo o tipo de ataques por parte de proprietários e imobiliárias, desde o desaparecimento de campainhas, caixas de correio, cortes de água e luz e até visitas inoportunas e não autorizadas, e todo o tipo de pressões (in)imagináveis exercidas pelos especuladores.

A cidade é hoje, pois, um espaço de produção e de consumo sustentado por estratégias como a mercantilização das intervenções urbanísticas e da vida quotidiana da população residente. Na cidade capitalista tudo é rentabilizável: os serviços e bens essenciais são deslocados, os bairros são transformados em sítios da moda para os endinheirados, os mercados populares são gourmetizados, as praças deixam de ser espaços de comunidade, a vida é suspensa a favor dos grandes investimentos. Paralelamente, ao som insistente do camartelo, há uma maior militarização do espaço público, o estabelecimento de mecanismos de controlo da população, a implementação de sistemas de vídeo-vigilância, a imposição subtil de um modelo de bom-cidadão.

Numa altura assim, precisamos de nos juntar para falar sobre os processos de (re)construção da cidade capitalista, analisando as suas fundações históricas, as suas formas materiais e as relações de poder nela imbricadas, bem como para reflectir sobre as lutas actuais, as possibilidades de auto-organização e do apoio mútuo, e a criação de alternativas que procurem outras formas de conceber a cidade.

Eis as II Jornadas “Cidade em Revolta – Entradas e Saídas da Ruína Capitalista”.

As casas, ruas, vielas, avenidas, becos, travessas e praças revestidas de calçada, cimento ou alcatrão, que nenhum presidente construiu (cortar fitas não conta), são nossas, todas!
Tomemo-las!

Programa completo:

DIA 8 | Sábado

16h | Oficina “Que cidade queremos?” (a partir d'”Os Despojados”, de Ursula Le Guin)

“(…) cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares.” (Italo Calvino)

Propomos um caminho para pensar o Porto, a cidade onde vivemos, uma cidade que começou num “primitivo burgo, da alta Idade Média, rodeado por uma exígua muralha que apenas cingia o alcantilado morro granítico hoje designado a Sé. Era a ‘”cerca sueva'”, destruída, parece, pela invasão de Almanzor” para ser o que agora conhecemos, uma metrópole habitada por 237 591 pessoas. Partindo da descrição de uma cidade e sociedade anarquista, Abbenay, construída de raiz, no “sopé das montanhas Ne Theras”, numa narrativa de ficção científica, intitulada “Os Despojados”, de Ursula Le Guin, queremos explorar o realizável, o ideal e o impossível ao perguntar-nos: Que cidade queremos?
A oficina desenvolver-se-á em três partes. Num primeiro momento, questões simples serão apontadas no mapa da cidade, a seguir com a abordagem à cidade de Abbenay, procuraremos salientar o que gostamos, o que é pertinente ou impertinente, ou outra coisa qualquer, para depois passarmos novamente a rabiscar no mapa o que queremos para o Porto, que habitamos e vivemos, tanto a nível das infra-estruturas como dos processos de organização e decisão.

Tragam papel, cadernos e canetas, lápis ou lápis de cores porque a cidade que queremos habitar começa aí, nos rabiscos, gatafunhos, rascunhos e apontamentos!

18h | Conversa “As dinâmicas da cidade capitalista”
Pedro Duarte

Nesta abordagem às dinâmicas estruturantes da cidade capitalista, pretende-se identificar e analisar resumidamente o conjunto de mecanismos que são responsáveis pela evolução e pelo funcionamento da cidade tal como hoje a conhecemos. A ideia é que, no final da exposição, quatro ideias que subjazem ao modus operandi desta cidade se tornem mais claras: 1) é a vida privada que se reproduz no espaço público; 2) as classes não se misturam, isolam-se; 3) a cidade não se habita, consome-se; 4) toda a vida é gerida em função da eficiência.

20h | Jantar musicado

DIA 9 | Domingo

16h | Oficina de encadernação Cartoneira

A partir de uma introdução ao universo dos livros cartoneros, um movimento editorial artístico, político e social, nascido e crescido nas grandes cidades da américa do sul, vamos experimentar esse método de encadernação simples. Serão pequenas edições feitas com artigos escolhidos do livro “Cartografía de la Ciudad Capitalista” (2016), da Asociación de Estudios Antropológicos ‘La Corrala’ (ed. Traficantes de Sueños), que foram traduzidos pela organização destas jornadas. Como manda a cartoneria, a cartonage, a cartonice, os livritos vão ter capas de cartão reutilizado, intervencionadas por cada participante. Não há capa que se repita, separa já o cartão da box de vinho!
Materiais: Traz x-actos e réguas.

18h | Conversa “Para que é que nos serve a investigação social pelo direito à cidade?”
Ariana S. Cota, da Asociación de Estudios Antropológicos ‘La Corrala’

O nosso trabalho de investigação consiste, há mais de uma década, em analisar os conflitos urbanos no sentido de contribuir para: 1) a construção colectiva de ferramentas que confrontem as realidades que nos atravessam; e 2) a memória colectiva das lutas sociais a partir da autonomia política, económica e de aprendizagem e com enquadramentos teórico-práticos que atendam às necessidades e reivindicações dos movimentos sociais (o que nos faz reflectir sobre o modo como podemos construir conhecimento útil para quem está continuamente a ser excluído do direito à cidade).
A nossa investigação procura visibilizar, deslindar e confrontar um modelo que transforma a cidade num espaço desenhado e controlado para a reprodução do sistema capitalista através da implementação de três processos:
– Priorização dos valores económico-liberais no processo de ordenamento do território, convertendo os sectores empresarial e financeiro em autênticos actores políticos e dirigindo qualquer intervenção urbana para a obtenção de lucro.
– Progressiva extensão do controlo e da filosofia capitalista a todos os âmbitos do nosso quotidiano urbano (consumo, conhecimento, lazer, casa, relações afectivas, etc.).
– Replicação deste modelo em muitas outras cidades inseridas no sistema neoliberal, adaptado às particularidades de cada uma, com a conivência das instituições políticas.

Relativamente ao nosso trabalho, destacamos o seguinte:
˗ Entre 2006 e 2009, dedicámo-nos aos processos de transformação urbana em Granada (considerando a mobilidade e a habitabilidade) e à análise experimental das lutas sociais que são organizadas contra estes processos. O resultado foi “Aprendiendo a decir NO. Conflictos y resistencias en torno a la actual forma de concebir y proyectar la ciudad de Granada” (2009).
˗ Entre 2010 e 2012, debruçámo-nos sobre a implementação da cidade-marca por parte dos promotores e gestores do território, onde “o cultural” é instrumentalizado para projectar uma imagem urbana renovada que atraia o maior número de investidores e de turistas que posicionem a cidade competitivamente. Este processo resultou no livro “Transformación urbana y conflictividad social. La construcción de la Marca Granada 2013-2015” (2013).
˗ Entre 2012 e 2013, analisámos o processo de reconversão, controlo, repressão e privatização dos usos e costumes do espaço público em “¿Por qué no nos dejan hacer en la calle? Prácticas de control social y privatización de los espacios en la ciudad capitalista” (2013).
˗ No nosso trabalho mais recente, convidámos outros indivíduos e colectivos para pensar em conjunto sobre a possibilidade de falarmos de um modelo de cidade capitalista, o que resultou no livro “Cartografía de la ciudad capitalista. Transformación urbana y conflicto social en el estado español” (2016).

Por fim, ressaltamos que – além das pesquisas e das publicações – é fundamental para nós participar em espaços de encontro onde possamos partilhar o nosso trabalho/ferramentas e aprender com outras experiências, no sentido de contribuir para a amplificação de vozes, situações e conflitos, assim como para a organização colectiva pelo direito à cidade.

20h | Jantar conversado

i-) Condições de acessibilidade:
Em termos de acessibilidade a pessoas com diversidade funcional, convém referir que a estação de metro do Campo 24 de Agosto é a mais próxima. Da saída do metro até ao local, a distância é de 800 metros.
O espaço desta actividade corresponde a um rés-do-chão e está localizado numa rua com inclinação acentuada. A casa de banho não está preparada para pessoas com diversidade funcional (i.e., a sua largura é convencional, não possui barra lateral de apoio e a largura das portas não é suficiente para garantir a manobrabilidade de cadeiras de rodas, por exemplo).

I Jornadas “Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo” | 20-21 de Outubro de 2018

I Jornadas “Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo”
20-21 de Outubro de 2018
Rosa Imunda | Porto

Com os punhais
furtados ao anjo
construo o meu lugar
com a gaze das lagoas
e a pérola dos ciprestes
com a viuvez da pedra
Do primeiro salto da lebre
ao voo selvagem da minha arma
O braço não tem lar
(E. Jabès)

Nas cidades, persiste habitação degradada e insalubre e até mesmo dessa as pessoas são expulsas para dar lugar a cada vez mais numerosos alojamentos “locais” (venha viver como um operário do século XIX!, dirá o cartaz de promoção turística). Ninguém que viva do seu trabalho consegue arrendar uma casa digna que não seja na periferia e as pessoas continuam a ser empurradas para bairros “sociais” guetizados, como entulho da limpeza social em curso.

Quem resiste sofre todo o tipo de ataques por parte de proprietários e imobiliárias, desde o desaparecimento de campainhas, caixas de correio, cortes de água e luz e até visitas inoportunas e não autorizadas, e todo o tipo de pressões imagináveis e inimagináveis exercidas pelos especuladores com o fim de esvaziar a cidade das suas gentes e torná-la num parque temático.

Numa altura assim, precisamos de nos juntar para falar!

Não poderíamos deixar de pensar juntas e organizar-nos para delinear futuras acções de luta e de resistência por uma habitação em que os espaços de vida e de residência sejam definidos pelas pessoas, de acordo com as suas necessidades. Esta resistência não pode depender do Estado, do Poder local, das instituições ou dos partidos e de plataformas “amigos do povo”. Também não pode estar dependente daqueles que travam as lutas populares com propostas legalistas que vedam a participação real das pessoas afectadas pela questão da habitação, como se o Estado – que até agora pactuou e ajudou a criar a situação em que nos encontramos através de dispositivos de limpeza social, de protecção da propriedade e de negócios pouco claros – viesse agora oferecer soluções por mera bondade.

A nossa proposta é de auto-organização sem mestres, nem chefes, a constituição de comissões de moradoras sem hierarquias, nem burocracias, que encorajem a acção directa e não a recriminem como infantil, perturbadora, contra-producente, e todos os epítetos que lhe são comum e desonestamente associados.

Eis as Jornadas Cidade em Revolta: Habitação, Resistência e Apoio Mútuo.

As casas, ruas, vielas, avenidas, becos, travessas e praças revestidas de calçada, cimento ou alcatrão, que nenhum presidente construiu (cortar fitas não conta), são nossas, todas!
Tomemo-las!

Programa completo:

Dia 20 | Sábado

17h | Rede de Solidariedade de Lisboa: uma experiência de apoio mútuo

A Rede de Solidariedade surgiu em 2016, da vontade de criar um movimento de apoio mútuo e de base comunitária à volta das questões da habitação. Inspirada no modo de funcionamento e organização da PAH (Plataforma de Afectados por la Hipoteca) e da Rede de Solidariedade de Seattle (Seattle Solidarity Network), a RSL actua de forma solidária, gratuita, independente e igualitária.

19h | Cíntia & Rui (poesia e bateria)
20h | Jantar

Dia 21 | Domingo

15h30 | Stop Despejos – A acção directa no direito à habitação (Lisboa)

A Stop Despejos é uma plataforma formada em Lisboa, em 2017, para parar os despejos e defender o direito à habitação e das pessoas a permanecerem nos seus bairros, dirigida sobretudo para a acção directa.

18h | Bairro 6 de Maio – resistir até hoje (Amadora)

O Bairro 6 de Maio é um bairro auto-construído na Damaia (Amadora). Desde 2015 que os seus moradores têm enfrentado despejos sem alternativa, aos quais têm vindo a resistir até hoje.

20h | Jantar musicado